domingo, 27 de maio de 2012

Lembranças

Eu tentava esquecer.
Só não sabia por onde começar.
Pela parte boa talvez,guardar as coisas ruins e fingir que não houve um lado bom.
Mas houve.
A preocupação que ele tinha comigo,a mania de dar atenção as minhas lágrimas inúteis.Como esquecer?
As tardes de verão, quando o sol batia em seus olhos e ele tentava se esgueirar deitando a cabeça em meu colo e reclamando:
-Ei Pâm,podemos entrar agora?
E eu ria demais dos seus olhos querendo lacrimejar por causa da claridade.
Ele me abraçava apertado e em noites geladas tirava seu casaco e o enrolava em meu corpo enquanto tremia de frio tentando me aquecer.Me sentia,de alguma forma,segura em seus braços,presa em seus abraços,alimentada por suas belas e ignorantes manias e perdida em cada rosa vermelha que ele me dava.
Elas morreram junto com nosso relacionamento,mas cuidei delas até o último instante que aquilo me fez bem.
Me perguntava como esquecer.
O jeito que passava os dedos de leve em meus cabelos,o mal hábito que tínhamos juntos de não comandar bem na cozinha,tudo,tudo que se tornou um vício para minha alma que parecia estar desesperada pela sua volta.
Mas não teria volta.
Só teria o vazio das lembranças.
Cada lágrima que derramei pelo mal que ele me causou não foi o suficiente para me fazer deter aquelas memórias.
No fim das contas,nada mudava nada.
E eu não podia esconder de mim mesma.
Eu ainda o amava,com a estranha sensação de estar presa a ele,quando eu só queria que ele estivesse preso a mim.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

A bela jovem Gótica

Abri os olhos e reconheci aquele lugar.A mesma escuridão.O mesmo sonho.
Dessa vez a lua clariava todo o ambiente,permitindo que se visse as árvores ao longe.
Era um sonho perfeito.
Encarei o balanço de aparência gasta que noite passada me convidava para me contar histórias de horror,mas,nessa noite,ele balançava uma outra pessoa,que parecia cantarolar uma canção de ninar qualquer.
Avistei uma jovem trajada em um vestido preto longo que parecia estar desbotando aos poucos.Seus cabelos eram negros como aquela noite e deslizavam levemente sob suas costas,pareciam ir até a cintura,mas se perdiam no meio de suas escuras vestes,como se fossem uma coisa só.Uma brisa gelada tocou suavemente meu rosto e fez com que seus cabelos balançassem,mas ela nem se moveu.
-Oi...-Falei baixo com receio.
Ela continuou de costas e abaixou sua cabeça.
-Você tem medo de perder alguém?-Ela perguntou sem ao menos olhar para trás,levantou-se do balanço e permaneceu parada ao seu lado,sua voz era doce,lembrava coisas boas.-Se perdesse...Iria sofrer?-Parecia se preocupar com algo imcompreensível..
Andei devagar e parei ao lado dela,sentindo um enorme arrepio,mas ela não parecia se importar.Não conseguia ver seu rosto por mais que eu me esforçasse,mas não sentia medo,sempre carreguei em minha mente que sonhos não podem nos fazer mal.
-Eu tenho medo é claro,todo mundo tem.-Sussurrei para que o silêncio da noite permanecesse e eu pudesse ouvir o vento uivar.-Se eu perder,eu vou sofrer...Perder para a morte,você quer dizer?Porque mesmo perdendo para a vida,como eu ja perdi...-Passei as mãos sobre meus braços tentando conter o arrepio e minhas palavras de angústia,para que elas não me sufocassem quando eu acordasse.-Ainda sofro com o vazio no meu peito...
As lágrimas se aproximavam,mas eu as expulsava negando minha fraqueza.
-Perder para a vida?-Ela indagou desconfiada levantando a cabeça e virando o rosto para que eu não o visse.-Alguém deixou de te amar?Pois perder para a morte verdadeiramente dói,mas sabemos que alguém se foi nos amando,e não carregando um pedaço nosso para nos torturar...-Seu tom era encantador,mas seus silêncios repentinos me assustavam me deixando sem saber o que fazer.
-Bem...Ele deixou de me amar...-Falei abaixando a cabeça e sentindo uma lágrima escorrer.-Mas,com o tempo eu deixarei de ama-lo...Mas não me agrada falar disso,então por favor...
Ela me interrompeu com um gesto de silêncio.
-Não tenha medo.Perder alguém para a morte também cicatrizará com o tempo.
Senti um certo desconforto com suas palavras e sem pensar peguei em sua mão.
Eram tão geladas quanto o vento que soprava uivando em alto e bom som.Pensei em perguntar seu nome,mas com meu toque ela se foi.
Simplesmente sumiu.
Minha cabeça rodava e eu queria acordar.

(Continuação)


quarta-feira, 23 de maio de 2012

Saudades

-Deixarei que minhas lembranças continuem a te amar,até que elas superem sua falta e não me perturbem mais.
Conhecia meu próprio sofrimento,minha própria dor.
As pessoas sempre julgam saber o que você está tendo de enfrentar,mas elas nunca conhecem o que você guarda como segredo de si mesmo.
E eu guardava aquela amargura.
Chorava baixo antes de dormir,deixava a saudade tomar conta das minhas lágrimas e me torturar até que o sono finalmente chegasse.A saudade de cada momento bom,de cada abraço,de cada palavra confortante e verdadeira.A saudade da voz que alegrava meus dias,que me acordava de vez em quando.
A saudade do cuidado,da proteção.
A saudade havia se tornado minha inimiga.Me angustiava e abria espaço para todos os fantasmas do passado dançarem levemente em volta da minha cama.
O dia trazia uma calmaria que me assustava e me lembrava que a noite seria em clara.
Não conseguia controlar meus sentimentos,eles pareciam explodir dentro da minha alma sedenta por um pouco de paz e sossego.
-Apenas me dê uma chance...-Ele abaixou a cabeça e tocou meu rosto.
Eu queria abraça-lo e me entregar.
Mas isso só provaria o quanto eu era fraca,e não permitiria que ele soubesse que eu ainda pertencia inteiramente  a ele.
Dei de ombros para suas palavras que me consumiam.
-Não voltarei pra você...-Falei baixo e virei de costas.-Você deu seu ponto final naquele dia...Agora darei o meu.-Suspirei pensando em cada palavra.-Esse tempo que passei longe de você me fez sentir sua falta,pode acreditar...Eu  nunca quis pisar em você ou te magoar,nada disso,nunca mesmo...-Ele permaneceu calado.Seu silêncio me fazia sentir que ele nem estava ali.-Talvez você não acredite em mim,mas ainda existe muito de você em cada lembrança.É inevitável não lembrar de tudo,embora eu queria esquecer cada abraço que você me deu...Eu jamais vou guardar sequer uma faísca de raiva.Eu pretendo não guardar nada,para que eu possa seguir em frente...-Senti minha voz tremer,mas eu precisava falar para que mais tarde minha própria consciencia não me cobrasse isso.-E bom...Ponto final.
Ele passou as mãos em volta de minha cintura mas me esgueirei de seu abraço repentino.
-Pâm...Tem certeza?-Senti que ele se afastou um pouco de meu corpo.
-Se eu guardar algo...Guardarei só seu lado bom.
Caminhei em passos leves sem olhar pra trás,mas minha alma gritava de vontade de correr para seus braços.
Não me rendi.
-Somente o lado bom,somente o lado bom...
Falei repetidamente na intenção de acalmar minha alma e fazer a fraqueza passar.
Andei em passos firmes e rápidos.
Eu não daria a chave de meu jardim para que ele destruísse novamente.Com muito esforço juntei meus pedaços e me reconstruí.Tudo que eu poderia oferecer eram rosas com espinhos.
Mas ele aguardava por lírios.

terça-feira, 22 de maio de 2012

A Vida não era a Culpada


Conferi debaixo da cama,talvez os montros só aparecessem no silêncio da noite.Me revirei e expulsei os pensamentos que me levavam a ele,e que aos poucos me causavam temor.Eu o amava,mas deveria deixa-lo partir,pois seu amor nao era mais meu,embora eu continuasse sendo sua,mesmo que ele não precisasse saber disso.
Os monstros então viviam em minha mente,e tentavam me avisar que a vida não era a culpada.
Respirei fundo.
-Tentarei dormir novamente.-Falei para mim mesma,sabendo que aquela era uma missão que exigiria muito esforço.-Não pensarei mais nele,não tocarei em seu nome...
Mas eu pensaria nele ao amanhecer,e só esqueceria dele quando a morte chegasse.
Levantei da cama e fui ao banheiro.Olhei para o espelho com medo de mim mesma.
Cortar os pulsos aliviaria o martírio,e por hora,era isso que importava pra mim.
Fiquei ali parada me olhando por alguns segundos e encostei a porta do banheiro.
Nada era como antes,tempos atras me julgava feliz até onde imaginava ser felicidade,pois pouco sabia dela.
Meus pesadelos não me assustavam mais,a realidade é que me atormentava.Parecia viver presa em um mundo monótono,no qual nada significa nada para ninguém,e eu não gostava disso.
Tantas pessoas me falavam para apagar as lembranças e tentar viver de novo,mas nem ao menos sabiam o que era viver de verdade.Lágrimas escassas derramavam por tantas coisas,e assim é o ser humano.
E eu era assim.
Chorava ao me lembrar de tudo que construí com mais de um ano ao lado dele.E ele estragou tudo isso com apenas um momento que marcou minha vida e que me traumatizou apavoradamente.
-Ja passou Pâmela...-Me diziam como se não tivesse sido importante a presença dele na minha vida,independente do que ele me fez.
-O que aconteceu de tão grave assim?-Me perguntavam freneticamente,com aquele tom de ignorancia e incerteza na voz.
Eu nunca havia contado pra ninguém o que ele havia feito,pois,de tão ingenua que era,não queria ver minha família  tendo raiva dele.Deixei na cabeça de cada um só o lado bom que ele tinha,e isso era o que realmente importava.

-Não queria...Acredite em mim Pâm,eu não queria ter te causado tanto mal...Naquele dia eu...
Essas palavras me davam calafrios.
Ele disse cada uma delas um dia depois de ter...
Eu não queria pensar nisso.Não queria e não pensaria,pois escondia isso até da minha alma aflita.
Olhei novamente para o espelho.
Refleti em minutos a minha vida inteira.
A morte ajudaria,me seria conveniente deseja-la,mas meus pais ainda eram meu bem maior.
Não deixaria que eles acordassem e encontrassem a filha debaixo de sangue morta dentro do banheiro.















segunda-feira, 21 de maio de 2012

Somente esqueça

Apenas respire fundo e diga repetidamente:-Eu estou feliz.-Repita até que você mesma acredite nisso.

Me perguntava apenas o que era felicidade.O sabor deveria ser doce,suave,mas eu sabia que não havia provado dela.Me sentia estranha talvez,carente da própria vida.

-Eu estou morta por dentro...Minha carne já está podre e sinto o mau cheiro das feridas abertas...Então cure,faça parar de doer,faça cicatrizar.
Ele olhou no fundo dos meus olhos e fez que sim com a cabeça.
Aos prantos me encolhi em seus braços.
-Somente cure,porque sangra toda vez que ponho minha cabeça no travesseiro e dou asas aos pensamentos.Arde,arde essa ferida que está aqui dentro...

Eu precisava mentir para mim mesma que estava bem,mas também procurava um ombro para desabafar.
E é isso que as verdadeiras pessoas que te amam fazem.
Elas te dão o que você precisa.

-Queria não ter que esquecer as coisas passadas.O tempo continua a me dizer mas eu não quero ouvir.Não quero esquecer...
-Mas você precisa esquecer .
-Mas não posso fazer isso...Ainda sinto o toque de suas mãos em minha pele...Não consigo esquece-lo.
-Eu te prometo... Eu vou te curar.

Aquelas palavras soavam em minha mente.
Eu sabia que era hora de seguir em frente,embora o passado me prendesse com todas as garras.
Alguém ali não desistiria de mim,mesmo sabendo que eu mesma havia desistido.

A doce e suave morte

-Talvez algum dia você me perdoe...Me perdoe e supere tudo que aconteceu em sua vida.Talvez você encontre  alguma esperança.Eu espero que você encontre.

Na minha caixa postal só havia ligações dele.Eu deveria trocar de chip.Deveria mas não queria.Eu havia perdoado ele,mas ele não precisava saber disso.
Minha dor era muito maior que todo mal que ele havia me causado.E a dor parecia nunca querer passar.
Eu desejava que aquela dor não passasse de alguma forma,pois ela me mantia viva em um amor que nem a morte havia sido capaz de levar,embora este era o ponto.Eu estava viva,mas parecia não estar.
As lembranças não haviam sido enterradas,elas dançavam alegremente em meu jardim de lembranças.O vento surrupiava e as rosas soltavam suas pétulas.A dor não existia em meu jardim oculto,ela era suave como a brisa gelada,ela era bonita como rosas vermelhas e ela não era voraz como a realidade que eu não queria encarar.
O sepulcro,bem,ele não significava muito.
A morte chega com pressa,devasta a vida e vai embora com aquilo que amamos.
E eu sabia disso.
Sabia mas não aceitava.
Não me sentia viva,mas infelizmente estava.Sentia o ar entrar e sair de minhas narinas,sentia minha pele quente.
Sim,eu estava viva por fora.
Mas havia sido devastada por dentro.

domingo, 20 de maio de 2012


Queria saber explicar certas coisas,mas simplesmente não sei.Existem momentos que eu não me entendo.Existem momentos que eu amo tanto as pessoas que esqueço que minha própria vida é mais importante que a vida delas.
Talvez devesse parar de me importar,mas isso não significa nada para mim.
Amar é diferente,talvez eu saiba amar.
Talvez elas devam aprendam a amar.
Talvez nenhum de nós consiga saber o que é o Amor.

Pesadelos


A lua brilhava forte e a chuva não caía mais.As nuvens abriam espaço para aquela lua cheia.Mas,ainda com tanta claridade daquele céu azul e límpido não se via muito em meio a escuridão.A brisa gelada soprava minha pele me causando arrepios,então fechei o zíper do velho casaco de dormir e vesti sua toca.Eu não conseguia falar nada,minhas palavras não saíam,minha voz não estava comigo.Meu medo era incondicional,me causando tremor.
Continuei parada ali,e avistei um balanço ao longe.
Em passos lentos e leves,como se temesse onde estava pisando,andei em direção dele.
Parei ao seu lado.Sua aparência era meramente gasta,já enferrujado e sem cor.O vento soprava forte,fazendo com que ele balançasse sozinho.
Ele parecia me convidar,e eu não pude conter meus passos,sentei-me no balanço e deixei que o vento guiasse meus pensamentos e talvez me levasse de volta pra casa.
Minha mente estava agitada,e ali,sozinha em meio a toda aquela escuridão,só me restava pensar e pensar...
Senti que minha voz tentava sair,e ao menos sussurros eu consegui emitir.
-Talvez o desejo que minha mente insana projetou um dia passe.-Sussurrava de cabeça baixa e os olhos fixos ao chão,que era como o lodo.-A felicidade talvez não exista ou simplesmente exige muito para ser encontrada.
Eu era terrivelmente fraca,e falha eu sei disso,mas eu tentei e só desisti quando minhas forças acabaram.
Pensava no meu ex namoro.íamos noivar e até as alianças de ouro já estavam encomendadas,era para tudo ter dado certo.
E eu não conseguia aceitar o fim,negando o simples fato que naquele dia eu mesma terminei tudo.Olhei no fundo de seus olhos e disse alto e claro como as águas do oceano,que de tão azuis reluzem :
-Acabou.Nunca mais chegue perto de mim,nunca mais por favor !
Aqueles palavras rodavam em minha cabeça,e sempre que eram lembradas me davam calafrios.Eu sofria a falta dele,e talvez me culpasse pelo conto de fadas ter virado uma história de horror,mas eu também sabia meus motivos de tirá-lo da minha vida.E sabia que não era uma breve saída,ou uma briga tola,era um ponto final para sempre.E nesse caso,o para sempre era no modo literário.
Naquele dia ele me olhou com o rosto enrigecido e sorriu levemente com um ar de ironismo,me deu as costas e voltou para sua casa como se aquilo nem ao menos importasse.Ele ainda me ligava,mas eu não atendia mais.Me mandava mensagens ou deixava recado na caixa postal,mas eu nem ao menos ouvia.
Eu precisava passar por cima daquilo,e ignora-lo já era um grande passo.
Pensava ao longe,sem mais me importar com aquela escuridão fria e indomável.