quarta-feira, 23 de maio de 2012

Saudades

-Deixarei que minhas lembranças continuem a te amar,até que elas superem sua falta e não me perturbem mais.
Conhecia meu próprio sofrimento,minha própria dor.
As pessoas sempre julgam saber o que você está tendo de enfrentar,mas elas nunca conhecem o que você guarda como segredo de si mesmo.
E eu guardava aquela amargura.
Chorava baixo antes de dormir,deixava a saudade tomar conta das minhas lágrimas e me torturar até que o sono finalmente chegasse.A saudade de cada momento bom,de cada abraço,de cada palavra confortante e verdadeira.A saudade da voz que alegrava meus dias,que me acordava de vez em quando.
A saudade do cuidado,da proteção.
A saudade havia se tornado minha inimiga.Me angustiava e abria espaço para todos os fantasmas do passado dançarem levemente em volta da minha cama.
O dia trazia uma calmaria que me assustava e me lembrava que a noite seria em clara.
Não conseguia controlar meus sentimentos,eles pareciam explodir dentro da minha alma sedenta por um pouco de paz e sossego.
-Apenas me dê uma chance...-Ele abaixou a cabeça e tocou meu rosto.
Eu queria abraça-lo e me entregar.
Mas isso só provaria o quanto eu era fraca,e não permitiria que ele soubesse que eu ainda pertencia inteiramente  a ele.
Dei de ombros para suas palavras que me consumiam.
-Não voltarei pra você...-Falei baixo e virei de costas.-Você deu seu ponto final naquele dia...Agora darei o meu.-Suspirei pensando em cada palavra.-Esse tempo que passei longe de você me fez sentir sua falta,pode acreditar...Eu  nunca quis pisar em você ou te magoar,nada disso,nunca mesmo...-Ele permaneceu calado.Seu silêncio me fazia sentir que ele nem estava ali.-Talvez você não acredite em mim,mas ainda existe muito de você em cada lembrança.É inevitável não lembrar de tudo,embora eu queria esquecer cada abraço que você me deu...Eu jamais vou guardar sequer uma faísca de raiva.Eu pretendo não guardar nada,para que eu possa seguir em frente...-Senti minha voz tremer,mas eu precisava falar para que mais tarde minha própria consciencia não me cobrasse isso.-E bom...Ponto final.
Ele passou as mãos em volta de minha cintura mas me esgueirei de seu abraço repentino.
-Pâm...Tem certeza?-Senti que ele se afastou um pouco de meu corpo.
-Se eu guardar algo...Guardarei só seu lado bom.
Caminhei em passos leves sem olhar pra trás,mas minha alma gritava de vontade de correr para seus braços.
Não me rendi.
-Somente o lado bom,somente o lado bom...
Falei repetidamente na intenção de acalmar minha alma e fazer a fraqueza passar.
Andei em passos firmes e rápidos.
Eu não daria a chave de meu jardim para que ele destruísse novamente.Com muito esforço juntei meus pedaços e me reconstruí.Tudo que eu poderia oferecer eram rosas com espinhos.
Mas ele aguardava por lírios.

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