Desci para a cozinha na ponta dos pés com todo o meu
esforço para não acordar meus pais.
O relógio deixava claro que já era hora de eu estar na
cama,mas não conseguiria dormir com tantas coisas atormentando minha mente,e,de
qualquer forma,estava tentando fugir daquela garota do sonho,mais
especificadamente dos pesadelos.
Não acendi as luzes da casa,preferi pegar rapidamente um
copo de água gelado,uma cadeira e voltar para minha mesinha de
anotações.Tentaria expor minhas ruínas no papel e descansar minha alma que se
sacolejava dentro de mim,talvez ajudasse a dor a adormecer por alguns
instantes,talvez me salvasse de meu próprio tormento compulsivo.
Coloquei o copo na mesa e a cadeira a sua frente.Encostei
a porta do quarto e passei a chave,não queria correr o risco de meus pais
pirarem com a filha parecendo um zumbi na madrugada gelada e quieta.Com uma
folha em cima da mesa e um lápis com a ponta grossa tentava meditar nas
palavras que não me amargurariam depois.
Oi...
Risquei rapidamente essa parte,era obvio que ele estava
bem.Ele sempre foi forte e corajoso,sabia se recuperar de qualquer coisa,e além
do mais só haviam passado duas semanas,o que haveria de acontecer em tão pouco
tempo? –Ele arranjar outra pessoa.Minha
mente me apavorou com essa ideia.Espantei os pensamentos e voltei para a carta.
Acho que não sei o
que dizer...
As vezes tenho a
impressão que vou abandonar tudo e sair correndo para seus braços,sem nem ao
menos saber se você ainda está envolvido nesse sentimento como eu estou...
Mas bem...Quando a
consciência volta vejo que não posso ir contra tudo o que devo lembrar de
você...Sentimento ridículo o meu...
Estou cheia de
problemas com minha psicose que não me permite seguir em frente,e essa é a
parte difícil,sei lá,sozinha vagando em pensamentos confusos e cheios de
perguntas...
Tomei um gole dágua e respirei fundo.Sentia minha cabeça
se acalmando em cada palavra que eu cuspia pro papel.Aquela havia sido uma
ideia boa pelo menos para mim.
Para ele talvez só seria mais uma esquisitice da minha
parte.
Não sei o que você
quer ouvir de mim,só sei que tenho muito a te dizer e me faltam palavras para
isso...
Poderia
simplesmente falar que ainda amo você mas nada é tão simples assim.
Dei desculpas
esfarrapadas para minha família por causa do nosso...término.Não contei o que
verdadeiramente houve para nenhum deles,embora acho que isso já não importa pra
você...
Mas acho que
história mal contada é pior que mentira.
Sorri baixo com a dedução obvia.
Ele me conhecia,sabia entender minhas palavras até quando
havia muitas outras por trás delas.Dizia que algum dia eu seria escritora e
famosa,bem como ele que também amava escrever.Sempre foi lisongiante lhe dar
cartas,que ele guardava em uma gaveta separada de todas as suas outras coisas.
Sempre que completávamos mais meses de namoro eu lhe dava
uma carta,mesmo que fosse boba e estranha ele guardava como se importasse
demais.
E eu gostava disso.
Sacudi a cabeça evitando as doces lembranças.
Hun...
É mesmo pior que
mentira.
Você me conhece tão
bem,sei que vai entender cada sílaba desse papel que talvez acabe sendo
amassado depois de lido e
rejeitado,então,espero que não se importe com meu romantismo que já esta meio gasto...
(Hun,só acho que amor não machuca ninguém...)
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