segunda-feira, 18 de junho de 2012

Introdução / Primeira parte


Eu era feliz,até onde sabia o que era felicidade.
Era junho e o inverno tomava conta da minha cidade pequena.
Nova Odessa era um lugar calmo,onde não se encontrava muitas pessoas fora de suas casas,e,com todo o vento gelado que insistia soprar raramente se via alguém caminhando pelas ruas.As poucas que saíam estavam sempre de carro com o aquecedor ligado e vidros fechados.
Eu tinha uma família que cuidava demais de mim,como se eu fosse uma criança totalmente dependente dos pais e da irmã mais velha.Tinha primos maravilhosos,que faziam tambem o papel de amigos,considerando o fato que eu não tinha muitos.
Uma garota com dezoito anos deveria escolher a dedo em quem confiar plenamente,e eu sempre fui assim.
Tinha somente uma irmã que já era casada e morava em outra cidade;quase todos os domingos do mês ela ficava na minha casa,mas a falta que ela causava era incondicional.Com seus vinte e cinco anos de idade ela vivia bem com seu marido e nem pensava em filhos.Ela estava realizada.
Minhas programaçoes de finais de semana convinham ficar em casa.
Não era como a maioria dos jovens da minha idade.
Eu era diferente.
Era calma e um bom livro me fazia bem.
As vezes,nos dias mais gelados,chuvosos e cinzentos deitava no sofá debaixo de um cobertor quente e procurava algo na televisão sem muito interesse,buscando apenas tirar cochilos e descansar da minha rotina semanal.
Costumava sorrir ao lembrar de meus sonhos doces.Sonhava com coisas boas.
Mas isso mudou com a decepção feroz que sofri com meu ex namorado há pouco tempo.
Os sonhos bons se foram.
Mas gostava de sonhar.E sonhava muito.
E com os sonhos me vieram pesadelos.Não qualquer pesadelo,como aquele que todo mundo tem de estar caindo em um  buraco sem fim e acordar ao desespero.
O verdadeiro pesadelo,aquele que aos poucos vai te amedrontando.
Eu precisava dormir.Precisava dormir e sonhar.Eu acordaria de qualquer forma,mas,ao acordar,era a realidade que eu temeria.


-Lembrei-me do quão forte a lua brilhava,da brisa que suavemente tocava minha pele.Abri os olhos com um certo arrepio daquele vento uivante,que balançava fortemente as árvores.Olhei ao meu redor..Não conseguia pensar em nada,mas minha mente se perdia em tudo...Olhei para o céu rapidamente e avistei uma bela lua que brilhava forte,mas que não espantava a escuridão incessante.Ela me lembrava algo...Me lembrava de meus assombros particulares,mas não me dava medo;me lembrava de sonhos doces,não de pesadelos perturbadores...
-A mente que pensa e os sentimentos que aos poucos se destroem.-Cantarolou a Miriam com tom de sarcasmo.-Você e sua sutil psicose.-Ria baixo enquanto saía do quarto com passos calmos.
-Ei Mi..-Levantei da cama e encarei a porta,esperando que ela voltasse e me desse atenção.
Em segundos ela encostou na porta e fazia uma trança em seus cabelos longos e negros.
-Ando tendo esse sonhos todos os dias .Sempre o mesmo sonho.
Lancei um olhar de medo em direção dela.
-Será que é porque eu estou triste,ou mal,ou angustiada,ou...
Ela me interrompeu.
-Se está tudo isso...Pare já!-Ela parecia me implorar por isso.-Ninguém merece suas lágrimas nem seu sofrimento...-Ela falava alto e rápido,como se quisesse abrir minha cabeça e plantar cada palavra de sua boca em minha mente.-Ele deve estar sorrindo enquanto você está se afundando...Ei Pâm,sonhos são só sonhos lembra?Foi voce mesma que me ensinou isso...
Abaixei minha cabeça e fiz que sim com ela.
-Prima..-Ela vinha em minha direção e abria um sorriso gentil.-Já faz uma semana hoje que vocês terminaram.
Pegou minhas mãos e deu um suave beijo em minha testa.
Olhou no fundo dos meus olhos,como se eles contassem um segredo.
-Está na hora de seguir sua vida.
Me arrepiei com suas palavras.
Ela me soltou e saiu do quarto encostando a porta.
Ouvi seus passos pelas escadas.
Senti seu silencio doce e vazio.
Deitei novamente em minha cama para pensar um pouco sobre coisas que eu andava fugindo.
Fazia uma semana que eu havia terminado com ele,depois de dois anos ao seu lado.Eu sabia que existia muito dele dentro de mim,mas não aceitava aquilo.
Não contei para ninguém meu motivo.Dei desculpas ridículas para todos da minha família,que sempre apoiaram nosso namoro e achavam conhece-lo bem,mas,nem eu mesma conhecia.Terminei sem olhar para trás,e carreguei comigo a parte boa que encontrei nele para nunca me lembrar de seu lado frio e calculista.
Aqueles sonhos não me incomodavam,mas me causavam saudades dos alegres que eu costumava ter.Sempre o mesmo sonho,no mesmo lugar,estava começando a mexer com meus pensamentos.
-Vai ficar aí para sempre tendo surtos?Quer conversar?
Minha prima me fez voltar ao presente batendo fortemente na porta.
-Acalme-se estou bem...-Sussurrei levantando da cama.-Já vou.

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